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sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Vida de Imigrante


Este sou eu na 'genba'. Genba em japonês significa 'local de alguma coisa', no caso, local de trabalho. Usa-se com frequência para designar local de obra. Não, eu não trabalho de óculos escuros, rsss, este é o momento anterior ao 'taiso', que é a ginástica que os japoneses fazem antes de começar a trabalhar.

Mas como eu estava pensando...quem disse que vida de imigrante é fácil? É bem verdade que as vantagens superam as desvantagens, principalmente quando se luta por um sonho. E sonhos foram feitos para se tornarem realidade, penso eu.

Tem dias que me sinto tão cansado que não sei gente...mas sabemos que no fundo no fundo vale a pena. Não só pelo trabalho, mas pelo tanto de coisas que vivemos e aprendemos por aqui.  

O Japão é, acima de tudo, uma lição de vida...pena que tantos brasileiros não passem de ano, rs! 

Amanhã é folga ... estou cansado ... mas a alegria pela folga é tão grande que quero aproveitar todos os momentos que tenho...amanhã eu relaxo, agora quero ver filme, futucar a net, escrever emails, tudo até a hora que eu aguentar, rs! 

A crise, como já disse, chegou aqui no Japão, e tem nos deixado preocupados. A valorização do dolar é um ânimo para os brasileiros que pensam em voltar para a terrinha. Digo isto porque conheço muita gente, mas muita gente mesmo, que aparentemente já desistiu de voltar. Acho que não vão se acostumar mais ao Brasil, ou chegaram a conclusão que na nossa terra não terão as mesmas condições financeiras que no Brasil. Aqui, mesmo um trabalhador braçal, um operário, pode comprar um carro daqueles de fazer perder o folego, entendem? Celular com televisão, IPOD, TV de plasma, Playstation 3, Computadores de última geração...tudo isto é relativamente fácil aqui. E pensar que no Brasil a gente se contorce todo para pagar as contas. 

Não, não é que aqui se ganha muito...é que a tecnologia é barata. Acho um absurdo o preço das coisas no nosso país, e todo mundo que vejo comentar, quando volta ao Brasil, é este susto que levam com o preço de tudo. E olha que a vida aqui no Japão é cara viu!?!

Tenho vivido uma crise de saudade enorme do nosso país. Me imagino nas pedras do Arpoador, ou no Recreio dos Bandeirantes...como eu queria ir ao BarraShopping passear a toa. Sinto falta de Londrina, e do Zerão. Do lago Igapó e do Pátio. Da av. Higienópolis e da vitamina da rua Sergipe. 

Durante o almoço, como a fábrica onde trabalho fica na beira do mar, fico olhando o Oceano Pacífico. Olho o porto e me lembro da praça XV no Rio de Janeiro...como disse, saudades, saudades e saudades.

Como um bom carioca, preciso ver o mar, e assim sendo, quando estou cansado demais, seja corpo ou mente, vou até o lado de fora da oficina e olho o pedaço de mar que me é de direito. Penso em tantas vezes que já tive o toque nas mãos desta água enorme e salgada. 

Saudades de Ipanema.

E assim a gente vai vivendo. Trabalhando e se encantando. Sofrendo por estar longe da família e dos amigos queridos. Por saber que, mesmo havendo internet e telefone, estamos perdendo momentos preciosos na vida de quem amamos. E vamos nos conhecendo aqui, no exterior. Brasileiros de todo canto do país. E fazemos novas amizades. Amizades com prazo de validade. Todos sabemos que um dia, iremos embora. E vamos vendo pessoas que nos cativaram, partindo.

Isto dá uma certa tristeza sabia gente? E pensamos...em breve serei eu.

Em breve, cumprirei todas as metas traçadas. Os planos alcançados, os objetivos atingidos. Hora de ir embora. De voltar pra casa, 'kaeru', de preparar o churrasco com os amigos, e o almoço com a família. De conversar em português na padaria, e comprar jornal de domingo na esquina.

Comer coxinha de galinha, e se preocupar com a economia do pais, kkkk!

Ai ai...saudades.

Abçs a todos

em breve estaremos de volta. Bjs

domingo, 31 de agosto de 2008

Ainda me surpreendo...

É verdade, 1 ano de Japão e ainda me surpreendo com as coisas aqui do arquipélago. 

Li um dia destes que o setor de serviços aqui do Japão é considerado o melhor do mundo, e de fato, o atendimento que recebemos aqui, desde pequenas lojas até na prefeitura, é coisa de deixar qualquer brasileiro de boca aberta. Somos atentidos de tal forma, que nos sentimos realmente respeitados e valorizados. É tanta coisa pra falar que vou fazer isto em um post a parte. Este aqui é só pra contar o que me aconteceu neste sábado.

Fui ao banco pagar a conta de gás, que vencia no mesmo dia. Estavamos apreensivos quanto a possibilidade de corte. O problema é que não temos tempo para ir ao banco efetuar o pagamento, e como este sábado foi minha folga, fui tentar pagar através dos terminais de auto-atendimento do banco próximo a minha casa. Lutas a parte pra tentar entender os kanjis na máquina, tive que pedir ajuda a uma brasileira que fala fluentemente o japonês (inclusive lê os kanjis) e ela percebeu que a opção de pagamento deste tipo de conta não estava habilitado. Somente durante os dias da semana eu conseguiria pagar através dos TAA (terminal de auto-atendimento). Então ela ligou para a companhia de gás (eu ainda não domino o japonês para tal) e explicou o acontecido. 

Mas que surpresa...quando ela falou que a gente não tinha tempo para ir ao banco, o funcionário da companhia de gás disse então que mandaria alguém até a nossa casa, na segunda-feira, para receber o dinheiro...Dá pra acreditar nisto? Não somente não cortarão nosso gás, e também não cobrarão juros, mas também irão até minha casa, à noite, para receber o pagamento.

Eu fiquei bobo, confesso...Ah Japão !!!

Até mais e boa semana a todos...

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Agressividade...


Agressividade...

Descobri uma coisa que me deixou estarrecido...somos, nós brasileiros e sul-americanos de um modo geral, extremamente agressivos. 

Sempre ouvi dizer que éramos um povo cordial e amante da paz, que pouco se envolvera em guerras, que buscava sempre um bom relacionamento, cordial e saudável, com o próximo...tudo balela gente. Somos extremamente agressivos. 

Quando cheguei aqui percebi que os japoneses são orientados a 'ter um certo cuidado' com os brasileiros (japoneses, em sua maioria, chamam todos os sul-americanos de brasileiros, mesmo que seja um peruano...diga-se de passagem...muitos deles pensam que falamos espanhol), mas como eu ia dizendo...eles são advertidos a certos cuidados com relação a nós. Para os japoneses não é nada estranho o chefe dar um leve tapa na cabeça de um subalterno em sinal de reprovação a qualquer coisa que ele tenha feito de errado. Agora imagina um brasileiro levando um tapa na cabeça de um chefe...imaginaram a reação? Pois é, por isto que eles são advertidos. 

Japoneses vivem discutindo, mas quando a contenda envolve um brasileiro, quase  sempre os japoneses se retraem, isto porque brasileiro não discute, parte logo pra briga não é verdade isto gente? Eles são capazes de discutir por 30 minutos seguidos, e quando você pensa:

_Agora vai sair 'porrada'

Que nada, resmunga um pra cá, outro pra lá e fica por isto mesmo....a gente é que parte logo pra briga, rs!

Existe um histórico aqui na minha cidade de rivalidade entre peruanos e brasileiros. Hoje em dia a convivência parece ser mais amistosa, já não existem tantas brigas por parte dos jovens, mas ainda hoje um grupo fala do outro, dizendo ser 'esquisitos e encrenqueiros'. Na verdade, é o sujo falando do mal lavado entendem?

Até mesmo nas brincadeiras de trabalho podemos ver isto...os japoneses brincam entre si, natural, somos seres humanos, mas para um brasileiro, as brincadeiras chegam a ser infantis. 'Brincadeira' de brasileiro sempre envolve tapa, banda, xingamento, malícia etc. É verdade ou não é?

Os mal encarados somos nós, acreditem nisto que estou dizendo. Acho que é muito difícil para um estrangeiro entender o mecanismo que desencadeia uma contenda na mente de um sul-americano. Nós temos nossas regras, acordos tácitos entre a sociedade, sabemos o que podemos fazer, como brincar, quando falar, o que dizer, no momento certo, com quem....regras que aprendemos desde pequenos. Acho difícil um estrangeiro aprender estas regras. Percebo que são extremamente tênues os limites entre uma brincadeira hard e um conflito desencadeado.

Fofoca, intriga, luta por espaço, por influência, poder...tudo isto está no dia a dia de um brasileiro com uma intensidade, que só aqui percebo como somos agressivos. Quando vemos um brasileiro jovem, que foi criado aqui no Japão desde pequeno, é que notamos claramente a ... ausência de malícia. Aquela malícia que nos ajuda a viver aí no Brasil. Se não tiver ginga, jogo de cintura, e uma certa dose de cara feia, não é possível sobreviver na nossa terra. 

Chego a conclusão que tem que ter cacife para viver no Brasil. Definitivamente não é pra qualquer um não. As regras que nossa sociedade criou são extremamente individualistas e competitivas. Só vivendo em outro lugar do mundo para percebermos isto. 

É lógico que não somos tudo de ruim no mundo, mas que somos agressivos, isto somos. Apesar disto, somos gentis, coisa que um japonês não é. Japoneses são educados e cerimoniosos, gentis não. Quase impossível vermos um japonês abrir a porta de uma loja para uma senhora japonesa, mesmo que esteja com uma criança no colo. Ceder lugar para alguém de mais idade no trem? Nem pensar. Mulheres então? Que fiquem de pé, quem mandou entrar no trem tão tarde?

Percebo como um japonês fica 'emocionado' quando eu abro a porta para eles, ou quando cedo a passagem....eles não estão acostumados a isto. Coisas como abraçar, tocar, apertar a mão, este relacionamento que temos...'a cultura do toque', isto não existe aqui no Japão. 

Quando encontramos um amigo que não vemos há muito, gritamos, gesticulamos, fazemos festa...japoneses não conseguem expressar tal sentimento...se é que o possuem. Somos mais quentes, isto é fato, e talvez por sermos mais quentes para demonstrar carinho, amizade e amor, também sejamos quentíssimos para demonstrar raiva e insatisfação.

Abçs 

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Uma nova fase



Renata me acordou às 5:25 h da manhã, como é de costume, não tivesse havido esta semana de folga para deixar o corpo preguiçoso. São 6:05 da manhã e estou na estação de trem aguardando minha condução. O corpo estranho, eu estranho...estou me sentindo estranho...acho que é vontade de dormir, rs!

Agora meus dias ganharam trilha sonora...ganhei um IPod. É fato que as coisas rotineiras ganham um tom especial quando acompanhadas de música. 

A partir de hoje, inicia-se uma nova fase das nossas vidas, e da nossa estada no Japão. Levamos um ano de adaptação. Montamos nossa casa, procuramos um emprego melhor que o que haviamos conseguido quando chegamos por aqui. Já consigo falar um pouco deste idioma de doido e também consigo ler algumas coisas. 

Sempre prosperar, esta é minha meta. Não trouxe dois filhos ao mundo para que fosse diferente disto. Cada momento meu, será melhor do que o que passou e pronto. Não abro mão disto.

Fotos: 1- Renata e Yan em momento clean, rs. 2- 'close' de uma escavadeira, enfileirada com outras dezenas delas, na fábrica da Hitachi, onde trabalho.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Japão, país de imigrantes?


Uma das coisas que gosto de viver aqui no Exterior é a possibilidade de conhecer gente de todo o canto do mundo. Pessoas de nacionalidades tão variadas,  que talvez eu nunca tivesse oportunidade de conhecer se tivesse permanecido em nosso país.

O Japão está meio que em crise, porque sempre viveu uma situação confortável de ser um povo homogêneo, mas hoje a realidade é um pouco diferente. Em cada 30 crianças nascidas no Japão, uma é filha de pai ou de mãe estrangeiros. Aos poucos o povo japonês tem que conviver com gente de várias nacionalidades, e de acordo com estimativas governamentais, o Japão precisará de cerca de 10 milhões de imigrantes, se quiser continuar a movimentar sua máquina industrial. O Japão precisa de gente, e vai precisar mais ainda. Cada vez mais, a população envelhece, a taxa de natalidade diminui, e a população vai decrescendo. Mas existe ainda uma resistência grande por parte de muitos japoneses em admitir esta nova realidade. Que o Japão não é somente para os japoneses, mas também para descendentes e imigrantes, mesmo sem vínculo racial com o Japão.  Japoneses sentem um certo desconforto com relação a outras raças, principalmente sul-americanos, mas em compensação, são completamente apaixonados por norte-americanos. Eu, com esta cara que tenho, sempre sou confundido com um norte-americano e percebo a atenção especial que os japoneses dispensam. Como não sou bobo nem nada, solto o verbo em Inglês e pronto, rs!

É interessante ir para o trabalho, e se ver rodeado de gente falando espanhol, indonesiano, tailandês e, é claro, japonês. No meu trabalho conheci gente até do Sri Lanka, acreditam? No dia a dia não é difícil encontrar norte-americanos por aqui, aliás, é o que mais tem. Filipinos, Chineses, Indonesianos, Indianos, Paquistaneses, Sri Lankas (rsss, não sei como se escreve quem nasce no Sri Lanka, inventei este termo aí agora, rs), Iranianos, Peruanos, Bolivianos, Colombianos, Paraguaios, Argentinos (sim, até no Japão encontramos argentinos), e eu já vi gente da Itália, Canadá, EUA, Russia, Suécia e Alemanha inclusive.

Acho que listei todas as nacionalidades que vi por aqui até agora, rs! Esta foto que ilustra o post foi tirada no Bem Brasil, um bar brasileiro aqui na minha cidade. Interessante é que os europeus e Sul-americanos que vivem por aqui, independente de não serem brasileiros, frequentam este bar, com certeza por ser o único com estilo 'ocidental' e assim, sentem-se mais a vontade. Existe uma turma de alemães que vive por lá, além de peruanos. Tailandeses e Filipinos também gostam de frequentar o bar. Isto é muito legal, porque só mesmo estando aqui pra travar contato com gente de tanto lugar. 

Gosto muito de conviver com nossos 'hermanos de latino america', e tentar, eu disse tentar, compreender o espanhol. As vezes é difícil, e apelamos para o japonês, que acaba virando o idioma universal de todos os que vivem aqui. Brasileiros e Alemães se comunicam falando japonês, o mesmo se dá entre um vietnamita e um indonesiano. 

Infelizmente, no Brasil, principalmente para quem mora longe das fronteiras, conviver com estrangeiros é quase uma raridade. E acho que isto é um privilégio, aprender mais da cultura de outros povos, a maneira com que pensam e agem, saber que apesar de tão diferentes, somos tão iguais na essência. 

Viajar para o exterior passa a ser uma experiência fascinante por isto também. Existe uma multidão de 'irriquietos' no mundo, que não se contentaram em viver dentro de suas fronteiras, e partiram para desbravar todo canto do planeta. E aqui estou eu no meio deles, conversando, gesticulando, aprendendo com gente de países tão distantes quando a Indonésia, e tão mais próximos como o Peru.

Ja ía me esquecendo....brasileiros. Sim, somos muitos por aqui, e brasileiros de toda a parte de nosso Império. Conheci gente do Amazonas e Pará, do nordeste e centro-oeste.  É claro que a grande maioria é paulista e paranaense. Cariocas são uma raridade, mais ainda assim ouço falar de um ou outro carioca espalhado por aqui. E eu sou um deles.

Abçs a todos.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Estou vivo...


A despeito da minha ausência prolongada da internet, sim...estou vivo ainda!

É bem verdade que em uma mini-mega-ultra-micro crise, mas 'daijoubu' (tudo bem!). Fora o fato de ter que viajar uma hora e meia, quase duas, para chegar ao novo emprego, do calor terrível que está fazendo no Japão, como faz em todo verão, dos insetos gigantes que existem por aqui, que de acordo com minha teoria, são resultado das bombas atômicas que foram jogadas durante a 2GM (vocês não tem noção de como são estranhos os insetos por acá), das SEMI, ou cigarras, que eu tenho aversão como a maioria das pessoas tem de barata, do dolar a R$1.57 , pra deixar a gente em aperto, e algumas crises passageiras, enfim....vai tudo bem na terra do sol poente, rs!

Ah, já ia me esquecendo...fizemos um ano de Japão, eita nós!!! Um ano de descobertas, e ainda não sei falar japonês direito, aff!!!

Um ano de saudades do Brasil, do Rio de Janeiro, de Londrina, da minha mãe, irmão, sobrinhas, cunhado, dos bares abertos na calçada, do cachorro quente na rua, da praia, do final de semana, dos jornais, tanto na TV quando nas bancas.  Saudades de coxinha de galinha, de falar bom dia e não 'ohayou'. Saudades de churrascarias, de rodízio de pizza, saudades dos amigos...

SAUDADES DA MINHA FILHA...

Não tem um dia sequer que eu não pense nela, e penso também que estou aqui por eles...Yan e Cacau.

Mas neste 'um ano' também fizemos amizades mais que especias, passamos por dificuldades e felicidades, passeamos, brigamos, brincamos, ganhamos dinheiro, gastamos dinheiro, comemos, vimos coisas diferentes, conheci gente do Sri Lanka, da Tailandia e da Indonésia. Conheci russos e romenos. Gente de todo o Brasil, de Manaus até o Paraná. Já vi e vivi coisas que nunca sonhara.

Gosto de estar aqui....gostaria de não ter precisado sair do meu país para viver, para sobreviver. Mas aqui, no exterior, começo a perceber novas nuances em tudo, em todos. Tudo é muito diferente...estamos soltos, sem raízes....desejosos de voltar pra nossa terra....com todos os problemas que ela tem de sobra. Mas é aí, no Brasil, que temos nossas raízes.

Voltarei em breve, com certeza. Enquanto isto, vou conhecendo o mundo, e me encantando com ele.

Abçs a todos.

domingo, 29 de junho de 2008

Das coisas que aprendi no Japão II


Soji

Sabem aqueles funcionarios que cuidam da limpeza pública? No Rio de Janeiro os chamamos de 'garis', mas não sei se é assim em todo o país. De qualquer forma, interessante perceber que não existem garis aqui no Japão. Isso mesmo! Não vemos funcionários da prefeitura pelas ruas com vassoura na mão, cuidando da limpeza das ruas. Aliás, não vemos sequer latas de lixo...mas reparem bem na foto...uma rua qualquer de Mito, capital da província que vivo agora. Não existe uma gimba de cigarro no chão, nem ao menos um papel de bala.

Isto que é interessante. Porque o povo cultivou o hábito de cuidar do seu próprio lixo. Quanto aos fumantes, um problemão. Em muitas cidades não pode-se andar e fumar ao mesmo tempo. Existem lugares especiais para se fumar e assim, jogar as cinzas e a gimba do cigarro. Se você vai andando e comendo algo, guarda o lixo com você até encontrar uma loja, ou lanchonete, ou principalmente os kombinis (espécie de loja de conveniências espalhadas por todo o Japão) e aí sim, você pode encontrar uma lata de lixo e jogá-lo fora. Latas especias para garrafas de plástico, latas de cerveja e refrigerante, embalagens de plástico e papéis.

Um dia destes recebi um livro enigmático na minha caixa de correio. Era um caderno escrito com Kanjis (dificuldade para ler) e o que aparentemente era uma lista com nome de moradores da região. Perguntei a um brasileiro que conhece a escrita e os hábitos da terra e ele me disse que tratava-se de um 'caderno do lixo' ou seja, quando você recebe este caderno, quer dizer que está incumbido de limpar a casinha de lixo da região em que vive. Isto porque não depositamos nosso lixo na frente de casa. Existe um lugar especial para isto, próximo de onde você mora e todos levam seus lixos até lá. Existe também dia certo para garrafas de vidro, de plástico tipo 'pet', para lixo plástico, lixo combustível etc.

Já que recebi o caderno do lixo, tinha que ir até lá e recolher qualquer lixo que não pertencesse ao dia de recolhimento e ... pasmem ... traze-lo para minha própria casa. Aí eu assinaria e passaria para o vizinho seguinte, o livreto, não o lixo...este passara a ser meu próprio lixo.

Nas escolas japonesas, as crianças aprendem também fazer o 'soji' ou faxina em japonês. As próprias crianças cuidam da limpeza das suas salas e são designadas a fazer limpeza de várias partes do colégio. Quando cheguei no Japão, e comecei a trabalhar nas fábricas e descobri que éramos nós mesmos os responsáveis pela limpeza dos nossos setores de trabalho, quase que surtei. Como pode isto???? porque não contratar gente para isto???

Bom, fato é que todos os dias, antes de começarmos a trabalhar, fazemos a faxina do local onde trabalhamos e levamos o lixo para os locais designados. Tanto fiz isto já que hoje, percebo o quão certo é esta atitude, e os japoneses se acostumam desde crianças a fazer isto.

Entrar em casa de sapatos??? nem pensar!!! Hoje temos este hábito tão arraigado no nosso dia a dia que não consigo imaginar fazendo o contrário quando chegarmos no Brasil. Só de pensar que antes entrávamos em casa e passeávamos pela nossa sala de estar com os sapatos  que estavamos usando na rua ... que loucura isto!!!

A palavra 'limpeza' no sentido de fazer 'faxina' em japonês é 'soji' e todo brasileiro aqui no Japão tem que dividir seu dia de folga entre diversão, descanso e ... soji. Soji suru em japonês é 'fazer a limpeza' e é algo tão normal e tão importante isto...criar um conceito de limpeza que ultrapassa até mesmo o sentido de responsabilidade social. Está intrinseco já...somos responsáveis pelo nosso próprio lixo e pela limpeza de onde vivemos e moramos. Se a sua rua está suja, com folhas que o vento fez cair, ou ainda um papel de biscoito que alguém por descuido deixou cair no chão, você não fica aguardando a prefeitura mandar alguém. Você pega uma vassoura e cuida, você mesmo, da parte que está em frente a sua casa e quantas vezes já vi isto acontecer...

Se algum lugar fica muito sujo, por múltiplos fatores, a própria comunidade se reúne e faz a limpeza da região, em forma de mutirão. Mesmo quando vemos pessoas que cuidam especificamente da limpeza isto não nos tira a responsabilidade de agir de maneira correta com o lixo que produzimos.

Não que eu fosse um porcalhão, rsss, mas lembro-me bem que passar pano na mesa de trabalho isto eu nunca fiz...tinha faxineiro para fazer isto. Separar o lixo??? nunca aconteceu! Tirar os sapatos? coisa de japonês, bobagem!!! Cuidar do patrimônio social e da comunidade como se fosse algo exclusivamente seu, propriedade particular...?

Isto tudo eu aprendi aqui no Japão.  Da próxima vez que o caderno chegar até mim, depois de ter circulado por toda a vizinhança, irei até a casinha de lixo com satisfação. Estarei cuidando de uma coisa que é de todos, e minha também. Acho que isto é o mais perto de cidadania responsável que eu já vi. 

Abçs

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Dekasseguês

Você gambateia no zangyoo e nem tem tirado yasumi. Anda sem tempo para encontrar com a namorada, está sempre dizendo gomen. Ela também está isogashii, shoganai.

Nesta semana foi ao byoiin, hayai, na hora do kyukei, mas não tinha tsuyaku. Saiu de teiji, mas já era bem tarde e teve de comer bentoo de konbini com juusuu de hyaku en. Mas já comprou o tikketo para ir no fim de semana a uma disco com os tomodachi.

Esta frase acima foi publicada em uma revista da comunidade brasileira aqui no japão, a respeito do 'dekasseguês' e eu achei super interessante isto. Esta é uma conversa fictícia, mas que poderia acontecer tranquilamente...Falamos isto e tantas outras expressões com uma tal intensidade, mas ainda assim soa natural para nós, que estamos no Japão. Somente a gente que vive aqui consegue entender esta variação do idioma e é sobre isto que a matéria tratava. Seria o dekassegues prejudicial a educação das crianças, por exemplo? 

Mas o interessante mesmo é pensar que, quando eu cheguei aqui no Japão, além de não saber falar japones, percebi certa dificuldade também em me comunicar com os colegas brasileiros. Palavras como Daijoubu, keitai, tsukareta entre outras eram completamente sem sentido. Estranho perceber que, por alguma razão especial, algumas palavras e expressões japonesas tomaram o lugar das palavras em portugues de uma forma tão intensa que já é dificil usa-las.

Exemplo...Dizer 'tudo bem'. Isto eu nunca ouvi aqui da boca de um brasileiro. A palavra 'daijoubu' está tão difundida que nem nos lembramos mais da expressão em portugues. Algumas palavras eu até entendo, como por exemplo a palavra gaijin para se referir a 'estrangeiro'. Na verdade, a nossa palavra em portugues não consegue exprimir o sentido completo da palavra japonesa. Gaijin seria um estrangeiro sem descendência japonesa. Um tanto grande demais para usarmos a expressão em portugues não é mesmo?

O mesmo acontece com palavras que aprendemos no ambiente de trabalho...coisas que no Brasil nem tinhamos contato, e aqui no Japão aprendemos a utiliza-las pela primeira vez, e aprendemos em japones, é claro. Onde trabalho uso dezenas de palavras em japones, para me referir a coisas que poderia usar o portugues, mas porque isto não acontece? Nunca vi ninguem dizer ... 'hora extra', e sim 'zangyoo'. 

Fato é que as vezes é que percebemos que nossos conterraneos brasileiros que não estão aqui no Japão tem uma dificuldade enorme em entender a linguagem que usamos aqui. E não é dizer que estamos falando japones não. Qualquer brasileiro, mesmo que não saiba falar nadica de nada em japones, sabe que keitai é telefone celular, isogashii é atarefado e yasumi significa folga, e o que é pior...ele as usa mais que os correnpondentes em portugues...engraçado isto né?

A tempo...segue tradução do texto que iniciou o post.

"Você dá um duro e tanto durante as horas extras e nem tem tirado um dia de folga pra você. Anda sem tempo para encontrar com a namorada, está sempre pedindo desculpas. Ela também está ocupada então fazer o que?  Esta semana foi ao hospital, correndo, durante o intervalo de trabalho, mas não tinha nenhum tradutor no local. Saiu as 5h do trabalho, mas ainda assim era tarde e teve que comer um prato pronto em uma loja de conveniência e tomar um suco de uma moeda de cem ienes. Mas já comprou o bilhete para ir no fim de semana na disco com os colegas."

Espero que tenham gostado do 'dekassegues'.  Sugoi né?  ; )

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Das coisas que aprendi no Japão I



O Japão tem muito, mas muito a ensinar, não somente para os brasileiros, mas creio eu que para boa parte do mundo.
Vivendo aqui aprendemos que existem coisas que só acontecem aqui mesmo, rs!
Quando recentemente fiquei pensando sobre o quanto eu já mudei nesta minha temporada de Nihon, enumerei alguns pontos que creio eu, foram diretamente influenciados pela cultura aqui do arquipélago.
Pra começar a falar de todas estas mudanças, tenho que começar pela PONTUALIDADE.

Foi aqui que aprendi o verdadeiro sentido de ser pontual. Viver em um país que preza os minutos faz com que você modifique seus hábitos. Se quando queremos ir a alguma outra cidade, podemos ver através de um site que horas o trem partirá e, como já disse aqui em outro post, nesta hora exata o trem estará lá passando. Então, se o trem sai as sete horas e dois minutos, não adianta chegar sete e um, porque não terá tempo para comprar o bilhete e ir até a plataforma. O trem passarará aos dois minutos em ponto.
No Brasil, se o expediente começa as oito da manhã, tem gente que chega oito e cinco, e aí é que vai se preparar para começar o trabalho...não é assim mesmo?
Aqui, se começa as oito, exatamente as oito horas o botão de 'start' das máquinas é acionado, e você tem que estar já pronto para o trabalho.
Combinar um programa com japoneses é cumprir este horário. No Brasil, se receber um convite para uma festa as 18 h, pode-se chegar as 19 h, ou até as 20 h que está tudo bem. É até mesmo deselegante chegar exatamente no horário não é mesmo?
Bom, se você convidar um japonês para almoçar, e dizer que o almoço será 13:10. ele estará lá neste horário!
Já vi o chefe do lugar onde eu trabalho ameaçar demitir um bom funcionário somente por conta de alguns minutos de atraso.
Japoneses não toleram isto.
Esta semana, o tempo está mudando...está pra chover a qualquer momento. Então a gente consulta, pelo celular mesmo, a previsão do tempo.
Aí ficamos sabendo que a partir de quinta feira começará a chover por uma semana inteira. Detalhe, eu já sabia disto desde a  segunda feira anterior.
A previsão é exata, impressionante isto.
Sabemos até a hora que a chuva será mais intensa. Se na parte da manhã será fraca, e às 15 h, por exemplo, será mais forte. Ou seja, até a hora da chuva nós temos acesso, rs!
Se um furacão se aproxima, sabemos o horário exato que ele passará pela região onde vivemos.
Eu achei isto o máximo quando vivi pela primeira vez, e ainda hoje me impressiono um pouco.
...
Hora de trem, de trabalho, de chuva...
E você começa a se acostumar com isto.
E confesso...só aprendi a ser pontual aqui no Japão...e como eu queria ter aprendido isto antes!!!
Sinto que terei problemas quando voltar pro Brasil e perguntar que horas vai passar o ônibus para o bairro tal, e a pessoa me responder...ah, por volta de tres horas passa... ou ainda falar que irá passar em quinze , vinte minutos...
_Que horas será?
_No finalzinho da tarde!
Como assim no final da tarde? o que é isto??? rs!
Pontualidade é algo importantíssimo que nós, brasileiros, deveríamos prestar mais atenção. É um princípio básico para o bom funcionamento das coisas.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Morita San


Tenho trabalhado, além dos japoneses, é claro, com um peruano e um indonesiano, que é o que aparece na foto. Seu nome, Ismael Morita. 
Mas porque eu faria um post deste colega de trabalho? Primeiro porque tenho aprendido a gostar muito dele, e interessante, porque nunca na minha vida imaginei que fosse ser amigo de um indonesiano. Segundo porque ele me ajuda e muito no meu aprendizado de japonês. Sempre que tenho alguma dúvida recorro a ele, e ele prontamente me ajuda.
E sempre diz: 
_Pedoro San...mainichi, sukoshi!!! (Pedro, todo dia, um pouco), como quem diz "um pouquinho todos os dias"
Acontece que hoje ele me contou uma história. Eu já sabia que ele está no Japão tem mais de dez anos, e que quando chegou aqui não falava uma palavra sequer em japonês. O que eu não sabia até então, é que fora um brasileiro quem ensinou-o a falar japonês. Todos os dias o brasileiro, que se chama Reynaldo, o ensinava alguma coisa, da mesma forma como ele faz comigo hoje em dia.
E se virava pra ele e dizia:
_Morita San...mainichi, sukoshi!!!
Legal né?
Me fez pensar na importância de se fazer coisas boas...se plantar boas sementes. Um dia elas darão bons frutos. 
Quando eu trabalhava em um banco, no Brasil, lembro-me que nos cursos internos falava-se muito do 'agente multiplicador', que é o sujeito que tinha por função, multiplicar os conhecimentos adquiridos. No mundo corporativo de hoje, isto é levado bastante em consideração, e se você é um agente multiplicador, isto conta muito ponto pra você. Não basta conhecer determinado assunto...importante é difundi-lo entre os colegas.
E porque não valorizar o 'agente multiplicador de boas coisas'?
Agir com gentileza com alguém pode ter o poder de modificar o dia desta pessoa. Agir com benevolência com alguém, pode até mesmo modificar uma vida.
Gosto de pensar assim...nem tudo é ruim nesta vida.
Agradeço ao Morita, por me ensinar japonês todos os dias, e a este brasileiro desconhecido pra mim, que há dez anos atrás, ensinou de boa vontade e sem interesse algum um imigrante indonesiano a falar japonês. 

:)

segunda-feira, 24 de março de 2008

Kandatsu


Cidade nova...trabalho novo...casa nova...tudo novo de fato.
Estive este tempo todo distante, primeiro porque ficamos umas boas semanas sem internet, e segundo porque a vida aqui está bem corrida, ou isogashi, como os japoneses falam.
Mas aos poucos o corpo vai se acostumando com o novo ritmo de trabalho, e as coisas vão entrando nos eixos.
Estou trabalhando agora numa fábrica da Hitachi, com escavadeiras e afins. A segunda foto do post é uma pequena, mas pequena parte da fábrica.  Renata agora está dando aula em uma escola brasileira e Yan continua o mesmo...levado, brabinho e reclamão.
A primeira foto é de um depato muiiiiito legal, o D2. Tem de tudo lá, desde arroz até televisão, passando por roupa de cama, móveis, ferramentas e coisas de casa.
Estou trabalhando somente com japoneses agora, e foi engraçado no início. Corrigindo, somos cerca de vinte pessoas, creio eu, sendo que somente eu sou brasileiro, um outro peruano, e mais um da indonésia. 
O peruano não fala português, e eu não falo espanhol, assim, em ocasiões que os idiomas não se assemelham tanto, a gente tem que lançar mão ou do inglês, ou do japonês, pode isto?
Pior é com o indonesiano...este então, só mesmo falando japonês. 
Engraçado pensar que um idioma totalmente desconhecido por mim coisa de meses atrás, agora é uma ponte para me comunicar com gente de todo canto do mundo.
Vou ficando por aqui...o frio já tá indo embora, os terremotos voltaram a ativa (só hoje foram 3) e a primavera enfim chegou.
Prometo ser mais frequente a partir de agora.
Um abç a todos.
Pedoro (meu nome em japonês)

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Dia de folga...

Iassumi...
Uma das palavras que mais gosto no japones, e significa`folga`. Iassumi é então nosso dia de folga. Renata ainda assim foi trabalhar, e isto é bem comum por aqui. Trabalhar semanas direto sem um dia de descanso ou fazer várias horas extras por dia, todos os dias, é algo bem comum por aqui. E é preciso também, porque assim ganhamos dinheiro.
A vida por aqui não é tão fácil quanto se pode imaginar. O custo de vida é alto, comprar comida é caro, e quando pensamos na nossa moeda, o real, ai é que a gente não quer gastar dinheiro com nada mesmo, rs. Eu, particularmente, não penso mais em real, somente em Yen, e a maneira como vejo se algo é caro ou não é pelas horas de trabalho que eu tenho que fazer para poder comprar tal coisa.
Aqui ganhamos por hora, e pensamos desta forma ao fazermos as contas do quanto vamos receber e do quanto vamos gastar no mes. Diferente do Brasil, que temos o hábito de pensar somente no salário mensal.
Aqui, se voce ficar doente, tudo bem, fica em casa descansando, mas também não ganha nada. Este é um dos motivos pelo qual muita gente vai trabalhar se sentindo mal, e doente mesmo. Não podemos pensar em ficar em casa...se é pra ser assim, não teríamos saído do Brasil. Fato é que precisamos trabalhar, e muito, mas ainda assim conseguimos o que no Brasil é cada vez mais um artigo de luxo...pagar nossas contas em dia.
Este é um sentimento muito gostoso de se sentir novamente...e nem me lembro direito da última vez que minha família teve este gostinho de pagar as contas em dia. E ainda sobrar dinheiro...aff!!! Esse nosso Brasil...!!!
Como eu dizia, hoje é meu dia de folga, e temos tanta coisa pra fazer, e tanta coisa que queremos fazer, que o dia acaba sendo mais corrido que um dia de trabalho normal, rs!
Mas desta vez estou fazendo diferente. São onze e cinquenta e dois da manhã de quarta-feira, pra voces, que estiverem me lendo logo após a postagem, ainda será noite de terca-feira, dia 26.
Acordei cedo, como todos os dias, e fui acompanhar Yan e Renata em seu início de dia. Na foto acima, Renata está levando Yan no colo, e a van que o irá levar até a escola o está esperando. Yan estuda em Mitsukaido, cidade próxima a nossa. A escola é brasileira, ou seja, professores brasileiros, credenciados pelo MEC, e que ensinam criancas brasileiras. Geralmente, quando o brasileiro pensa em retornar cedo para o Brasil (cedo, entenda como sendo de dois a cinco anos) ele coloca os filhos em uma destas escolas. Caso o imigrante brasileiro pense em ficar aqui por dez anos, ou ainda fixar residencia pelo Japão, ele coloca os filhos em uma escola japonesa mesmo. Isto é bom por um lado...a crianca aprende japones como qualquer menino ou menina do japão, mas em compensacão, não vai estudar nada de portugues, e o seu ensino será todo condicionado a cultura japonesa. Com toda certeza, caso esta crianca tenha que retornar ao Brasil, não se sentirá brasileira, e este é que é o problema.
Um ponto importante é dizer que a mensalidade de uma escola japonesa é cerca de 20% a mensalidade de uma escola brasileira, e isto no final do ano faz uma diferenca e tanto.
Dia de folga para brasileiro que vive no Japão é dia de faxina e de lavar roupa...quase todo mundo que conheco acaba fazendo faxina nos dias de folga, rsss, e eu, pra não fugir a regra, estou faxinando aqui nosso cantinho no mundo. Enquanto renata se diverte no trabalho, e yan brinca na escola, eu estou aqui de vassoura na mão e sabão em pó na outra, colocando a casa em ordem...
Ontem, terca-feira, como todas as outras que antecedem minha folga de quarta, saí mais cedo do trabalho, mais cedo entende-se ter cumprido pelo menos 10 horas de labuta, e corri para o curso de japones que estou fazendo. A prefeitura aqui da minha cidade oferece curso de japones grátis para estrangeiros, porém, sou o único brasileiro da classe. A grande maioria é de europeus, mas encontramos também norte-americanos. Sul-americanos, somente eu e uma senhora venezuelana. E por que não temos brasileiros no curso? Não sei, mas talvez por conta do curso ser ministrado em ingles, ou porque muito brasileiro aqui realmente não se interessa em aprender o idioma local, mesmo descendentes.
O curso é a coisa mais gostosa do mundo, e são horas bem especiais que vivo lá. A gente acaba trocando muita experiencia com os colegas ( o mais próximo de mim é um sueco) e assim, vamos alargando nossa visão do mundo. Gente, o mundo é agitado, coisa de louco. Pessoas pra lá e pra cá, numa correria desenfreada, rsss. Conheci um europeu que já viveu em tanto lugar, que desconfio que ele tenha oitenta e poucos anos, ao contrário dos trinta e tanto que ele falou que tinha, hahahaha!
Aprendemos japones, e aprendemos também um pouco da cultura local. Ontem, por exemplo, foi *chushi no meigetsu*... rs, calma, eu explico. Ainda está para mim também um pouco obscuro esta festividade, se é que podemos chamá-la assim. A traducão literal seria algo como *lua bonita de meados de outono*. A gente faz um brinde olhando para a lua, que de fato, está linda de tão cheia, e diz *Kampai*, que é a forma como os japoneses brindam. Fizeram um arranjo bonito de flores, com uma planta que eu não conhecia até então, *susuki*, bem parecida com o arroz.
Acho que isto é tudo o que aprendi sobre este dia especial, rsss, como disse, as vezes é tanta informacão que voce recebe em um dia, que é bem difícil de assimilar tudo.
Por falar em assimilacão, aqui com a gente vai tudo bem. Estamos bem, trabalhando muito, sobrevivendo ao cansaco e a saudade do Brasil. Yan esteve doente por uns dias, e renata acabou se cansando cuidando dele mais do que se tivesse indo trabalhar, rs.
Talvez hoje ainda eu faca um post sobre o meu trabalho, como o Sérgio pediu.
Por enquanto é só pessoal. A vassoura e a louca me esperam.
Como devem ter reparado, eu já consigo usar alguns acentos, menos o circunflexo, porém não faco idéia ainda de como reproduzir o ce cedilha. Perdoem então estas palavras confusas.
Boa noite para todos. Um beijo no coracão e...
Sayonara.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Vida de Imigrante

Vista da nossa geladeira, com produtos que a gente aos poucos vai se acostumando....Mas imagine chegar num lugar e nao encontrar marca alguma que vc esta acostumado. Do leite ao sabao em po, passando pelo papel higienico e tambem pela manteiga que vc come.
Ir ao mercado nas primeiras vezes eh uma aventura e tanto, rs!
Ser imigrante eh acima de tudo...estar preparado para ser forte, mesmo quando estiver fraco.
Deixar para o passado tudo o que faz sentido para vc...e eh nestas horas que vc percebe que a sua rua era de fato a sua rua. Que a musica que vc ouvia enquando passava por um lugar qualquer era a sua musica, que a comida que era servida em qualquer canto da cidade era a sua comida. Sua cultura, sua gente, seu lugar.
Entao, vc se depara com tudo o que eh novo...e diante de tanta novidade, vc tem que se redescobrir, e por vezes, se reinventar. Descobrindo passo a passo o que comer, o que beber, como se vestir, como agir diante de situacoes as mais corriqueiras, como pedir desculpas diante de um esbarrao, ou como pedir por favor...como e quando sorrir...como e quando se calar.
Tudo isto eh tao novo, que faz de vc um forte fragil.
Acima de tudo, eh preciso estar convencido de que vc eh o estrangeiro, e vc eh quem tem que se adaptar, e isto exige esforco.
Antes de viajar, lia relatos de imigrantes reclamando disto ou daquilo...ora bolas, ninguem nos chamou aqui. Viemos por nossa propria vontade, e nos infiltramos em uma sociedade que nao eh a nossa, logo, o mais correto eh tentar a adaptacao.
Seja pela lingua, pelos costumes, pelos habitos.
Aos poucos, mesmo que evitemos, vamos sendo moldados por todas estas novidades. Hoje nao jogo nada, absolutamente nada na rua, e ateh mesmo uma simples gimba de cigarro eh guardada em um cinzeiro portatil.
Um dia destes estava andando de bike pela minha rua quando vi uma lata de refrigerante vagando pela calcada. Passei, e voltei. Ela me incomodou tanto que eu mesmo a peguei e fui ate a lixeira mais proxima.
Quando eu faria isto no Brasil?
Mas aqui, o sentimento que existe de se cuidar do que eh seu e da coletividade eh tao grande, que vc eh impulsionado a agir da mesma forma.
Alias, nao vejo garis por aqui...no maximo uma senhora bem idosa e simpatica, que responde ohayou - bom dia - com alegria contagiante, que faz uma geral nos predios da redondeza.
Ninguem joga nada pelo chao, por isto nao existe a necessidade de um exercito de limpeza nas ruas.
Ser imigrante eh se encantar com o novo, e sentir saudades do que agora eh velho...do que vc deixou para tras.
Eh se habituar, e esquecer padroes. Redescobrir e redescobrir-se. Ir alem. Vencer saudade e acima de tudo...lutar.
Voce tem um espaco, um tempo, e uma chance de vencer, e o momento passa a ser sempre o agora.
Vive-se intensamente o HOJE. Hoje eh o dia de lutar e vencer.
Hoje.
Ser imigrante eh escrever cartas, e aguardar uma carta. Escrever emails, e aguardar que familia e amigos se lembrem de vc. Eh escrever um blog e ficar desejoso que amigos e familia, ou ateh mesmo um conterraneo desconhecido se comunique com vc.
Mas o que ha de melhor...infelizmente.
Ser imigrante hoje, eh ter esperanca.
Por que infelizmente?
Porque ninguem deveria deixar o Brasil para encontrar perspectivas concretas.
Mas quando encontramos estas perspectivas...ah, como eh bom poder sonhar, planejar e conseguir.
Paga-se um preco alto, sim, que ninguem se iluda.
Ser imigrante exige esforco, e vc tem que trabalhar duas vezes mais que um natural.
Tem que ser duas vezes mais inteligente. Duas vezes mais atento. Duas vezes mais capaz.
Saudades de todos....
Escrevam ou mandem um alo todos vcs que me acompanham neste blog.
Abcs nipponicos.